Publicada em 16/09/2011
INRI – “Oh, PAI! Eterno e inefável. Deus infalível Criador do Universo. Das culminâncias do Teu reino, do trono do Teu poder, do alto do qual Teus olhos temíveis tudo descobrem, tudo veem. Abençoe Teus filhos com saúde, luz e justiça. Porque Tua é toda a glória para todo o sempre, oh, PAI!”. Após ter invocado o meu PAI, vou proceder com uma dissertação facultando assimilação de minhas palavras e de minha realidade. Eu sou o emissário do PAI. Reconheço o vosso direito de pensar e dizer o que quiserdes, desde que me respeiteis o direito de dizer-lhes e esclarecer quem sou. Não escolhi ser Cristo, não posso vos obrigar a saber quem sou, mas isto não altera a minha realidade. Pensais que é fácil, obediente ao meu PAI, andar indumentado assim, os ignorantes zombando de mim? Ainda que os malignos condenaram Galileu, a terra continuou gravitando em torno do sol. O sol brilha, e mesmo que todos duvidassem, ele não deixaria de ser sol. Assim também, ainda que a maioria dos terráqueos não creiam que sou Cristo, continuo sendo o mesmo que crucificaram. Não me é facultado abrir a cabeça do néscio com um serrote e introduzir um bilhetinho dizendo “acorda-te, ignorante, desperta-te: sou INRI CRISTO, o filho do Homem”. O maligno disse, enquanto eu jejuava, há 2 mil anos: “se és o filho de Deus, transforma estas pedras em pão”. Ao que lhe respondi: “nem só de pão vive o homem”. Em verdade, em verdade eu vos digo: eu não preciso provar nada a ninguém, porque o óbvio é ululante e não carece de provas. Vós, meus filhos, é que necessitais provar que sois dignos do meu PAI, Supremo Criador, único ser incriado, único eterno, único ser digno de adoração e veneração, onisciente, onipresente e onipotente, único Senhor do Universo.
ZONA SUL – O senhor está de volta ao planeta terra desta vez com qual missão?
INRI – Eu sou o libertador. Voltei a este mundo para libertar o meu povo do jugo dos falsos religiosos, dos grilhões da idolatria, da fantasia e da mentira. Amo a liberdade, por isso deixo livres os seres que amo. Se voltam, é porque me reconheceram e são meus filhos, dignos do meu PAI, Senhor e Deus. Se não voltam é porque jamais tiveram parte comigo. Se vedes em mim alguma coisa, um ato aparentemente faltoso e injustificável, o erro não está em mim, e sim na maldosa ótica de vossa visão. Em mim não pode haver erro, porque sou puro e vim sem livre arbítrio a este mundo só para executar a vontade do Ser Supremo e perfeito que me reenviou. Quando ousais julgar-me, estareis sendo julgado por Ele. Benditos são os olhos que me veem e veem quem sou. Benditos são os ouvidos que me ouvem e me reconhecem pela minha voz. Bem-aventurados sois vós, vós que me escutais, porque eu só vos falo o que escuto do meu PAI, que é em mim. Eu sou o primogênito de Deus, o alfa e o ômega, o começo e o fim, a estrela resplandescente da manhã. Meu PAI e eu somos uma só coisa. Eu sou a luz do mundo, a verdade e a vida. Eu sou o caminho, ninguém vem ao meu PAI senão por mim. Antes de ser crucificado, eu disse: “pela minha voz o meu rebanho me reconhecerá”. Voltei, como havia prometido, para, no cumprimento das escrituras, julgar a humanidade e instituir na terra o reino do meu PAI, Senhor e Deus. Sou o primogênito de Deus: Adão, que reencarnei como Noé, Abraão, Moisés, Davi, etc, depois como Jesus e agora como Inri. Inri é o meu novo nome. Inri é o nome que eu paguei com o meu sangue na cruz. Inri, o nome que Pilatos escreveu acima de minha cabeça quando eu agonizava na cruz, quando cuspiam no meu rosto, quando me humilhavam, quando se cumpriam as escrituras. Inri é o nome que custou o preço do sangue. Guardai-o em vossas cabeças e sereis fortes e felizes, meus filhos. Meu coração bate forte de amor por todos vós. Que a paz esteja convosco. Podem continuar as perguntas, fiquem à vontade.
ZONA SUL – Quais as primeiras recordações que o senhor tem dessa sua atual passagem pelo nosso planeta?
INRI – Dessa vida?
ZONA SUL – Sim, dessa vida. Como foi a sua infância?
INRI – Ai, meu filho, pergunta diferente e muito interessante. Nasci em uma pequena aldeia do interior de Santa Catarina chamada Indaial. Fui alfabetizado em três anos de escola. O menino que vivia na mesma casa que eu tinha um ano e quatro meses a mais. Quando ele foi matriculado para ir na Escola Pedro II, lá em Blumenau, eu também queria ir. Mas naquele tempo a lei não permitia alguém com menos de sete anos entrar na escola. Bati o pé até que Madalena, a mulher que me criou, conseguiu a permissão da professora.
ZONA SUL – Esse menino era filho de Madalena, a sua mãe de criação?
INRI – Sim. Entrei na escola, mas claro que não passei de ano. Sempre fui um péssimo aluno. Eu ficava olhando pro teto… Mas queria estar no meio das outras crianças. Quebrei um braço no primeiro ano, já de cara. No segundo ano, quando completei sete anos, aí, sim, passei de ano. Esse foi o melhor período da minha vida, até os dez anos. A gente morava em um lugar chamado Bom Retiro. Vivia em contato com a natureza, com o mato.
ZONA SUL – As brincadeiras deviam ser bem saudáveis.
INRI – Já que você fez essa pergunta sobre o meu tempo de criança, lembrei de coisas deveras interessantes. Um dia estávamos voltando da escola quando uma cachorra chamada Diana pegou o calcanhar daquele menino. Madalena foi lá e comprou a cachorra. Eu não gostei de ver quando ela amarrou Diana em uma goiabeira e a dizimou. A coisa começou a complicar quando a gente mudou de bairro.
ZONA SUL – Isso tudo em Blumenau…
INRI – É. Nós moramos em uma casa em um lugar chamado Morro Oswaldo Otte, que era a casa que pertencia ao Curtume Oswaldo Otte, onde Wilhelm Thais (pai de criação de Inri) era operário. Ele caiu dentro de um tanque de química, onde se curtia o couro, e ficou tuberculoso. Como eles eram muito ignorantes, não sabiam que tinham direito de ficar naquela casa. Com vergonha dos comentários dos vizinhos a respeito de Wilhelm Thais estar impedido de trabalhar, eles foram para outro bairro. Madalena foi trabalhar como lavadeira. O médico disse que Wilhelm Thais não podia ficar conosco, por ser tuberculoso. Mas como não tinha para onde ir, ele ficou e não aconteceu nada. Em resposta ao doutor Krueger – que disse que ele teria tantos anos de vida, Wilhelm Thais sempre dizia, até meio debochando: “doutor Krueger foi e eu estou aqui”. Às vezes a metafísica pode contrariar as leis naturais e falar mais alto do que a medicina.
ZONA SUL – Continue, por favor, a falar sobre sua vida de estudante.
INRI – Depois fui para o colégio Adolpho Konder, onde estudei o segundo ano. Quando passei para o terceiro ano, como a Madalena tinha que pagar o aluguel, as coisas ficaram mais difíceis. Deus me permitiu viver em um ambiente propício para eu compreender os problemas sociais. Em um mês, ela pagava o aluguel. No outro, pagava o armazém. As compras eram anotadas em um caderno. Hoje eu sei que os comerciantes sabiam que no mês seguinte ela não ia poder pagar a ele, pois tinha que pagar o aluguel. Nessas ocasiões Madalena fazia as compras em outro armazém que tinha lá na rua. Para pagar as contas ela carregava sacos de roupa nas costas para lavar. Eu ajudava carregando água: em cada mão uma lata de 20 litros. A água do poço da casa não era suficiente, eu tinha que ir buscar nas proximidades. Hoje eu sei que Deus queria que eu visse bem de perto as vicissitudes, as dificuldades que enfrentam as pessoas humildes.
ZONA SUL – O que motivou o senhor a deixar sua casa aos 13 anos?
INRI – Nessa altura eu já tinha trabalhado como entregador de alimentos, como verdureiro… Desde criança eu obedecia uma voz que dizia que eu não podia falar pra ninguém. Certa tarde, minha roupa estava no quarador quando recebi a ordem de pegar tudo, botar dentro de um plástico e ir embora. Quando cheguei em Curitiba mandei uma carta.
ZONA SUL – Por que o senhor não podia dizer que ouvia essa voz?
INRI – Se eu falasse, óbvio que me internavam. Tive a oportunidade de ser oficialmente psiquiatrizado, em Belém do Pará, por uma junta médica. Eles concluíram que não poderiam dar um diagnóstico sobre mim.
ZONA SUL – Como o senhor fez para sobreviver em Curitiba?
INRI – Ah, interessante! Antes eu passei por Joinville… Vamos ver o que vocês vão aproveitar. Espero que não distorçam as minhas palavras.
ZONA SUL – Estamos gravando a entrevista para reproduzirmos as suas palavras da maneira mais fiel possível.
INRI – Chegando em Joinville, já que você fez a pergunta… Deus me propiciou a ocasião de conhecer bem o frio, a dor e a miséria. Em Blumenau conheci um cidadão chamado Antônio Domingos Alves. Ele era uma espécie de empreiteiro: alugava o nome de uma igreja e fazia rifa para arrecadar fundos. Trabalhei com ele em Blumenau. Depois que deixei a profissão de verdureiro, passei a ganhar comissão para vender as rifas. Chegando em Joinville, depois dessa minha saída de casa, eu estava sobrevivendo disso. Quando decidi ir para Curitiba, roubaram minha roupa, na pensão. Não pude esperar para descobrir quem foi. Cheguei em Curitiba, cerca de seis da tarde, batendo o queixo. Desembarquei naquele frio, sem ter sequer um casaco. Na frente da rodoviária antiga de Curitiba, vi dois gordinis estacionados, com uma faixa grande dizendo assim: “Rifa para a construção da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe”. Essa igreja que hoje tem lá em Curitiba foi construída com a minha ajuda, já que vendi muita rifa para ela. Quando vi aquilo, como já tinha experiência, fui direto no rapaz que estava vendendo. Ele me apontou o responsável. Fui lá correndo explicar minha situação. Ele disse que dava 20%. Antônio Domingos me pagava 40%.
ZONA SUL – Você já começou a vender rifas ali mesmo?
INRI – Na mesma noite eu vendi todo o talãozinho, que tinha dez folhas. Consegui 200, mas para eu me hospedar no Hotel Maia, precisaria de 220. Foi então que apareceu um cidadão de uns 40 anos, com uma pasta grande. Ao me ver tremer de frio, perguntou: “o que estás fazendo, menino, por que tu não vais pra casa?”. Respondi que não podia ir para o hotel porque estava faltando 20. Ele coçou o bolso e me deu os 20 que faltavam. Perguntei quando eu podia pagar. “Um dia tu pagas, em algum lugar, para alguém”. No dia seguinte, domingo, fui com o encarregado da rifa muito cedo para Campo Largo, no gordini, para pegar a primeira missa. Mal dormi, pensando nisso. Esqueci de dizer que aquele cidadão também me ofereceu um café e uma taça de leite com pão. Nunca ninguém me fez essa pergunta, agora eu vejo. Chamava de festeiro aquele que era responsável pela rifa.
ZONA SUL – Como foi esse primeiro dia vendendo rifa na porta da igreja?
INRI – Os outros que estava junto comigo para vender as rifas lá em Campo Largo iam num passo de tartaruga. Tinha até uma freira. Quando vi um caminhão cheio de polaco, vindo para a missa, nem esperei eles descerem do caminhão. Subi e já fui enfiando no bolso de cada um uma rifa, explicando para o que era e tal. Na segunda-feira fui em uma loja dessas de turco, de árabe, e comprei um casaco com pele de coelho. Um dia vou escrever algumas coisas sobre a minha infância… Minha história é muito comprida. Fui garçom, também, a profissão que mais gostei.
ZONA SUL – O senhor foi garçom em Curitiba?
INRI – Não, em Passo Fundo.
ZONA SUL – De Curitiba o senhor foi para onde?
INRI – Fui para o interior, depois voltei para Blumenau. Eu voltava sempre naquele Antonio Domingos. Ele era esperto. Era um homem gordo. Geralmente andava de calção, com uma toalha. O irmão dele disse que Antonio era praticamente analfabeto. Ele fazia um contrato com as igrejas do interior, oferecia uma certa quantia a elas e depois realizava as rifas. Ele tinha vários automóveis. Como ele viu que eu produzia, me mandava ir em um dos seus automóveis com os outros vendedores. Dessa forma fui aprendendo cada vez mais. Mas, resumindo, com 18 anos eu já estava em Passo Fundo, trabalhando de garçom.
ZONA SUL – O que fez o senhor gostar tanto da profissão de garçom?
INRI – As duas profissões que gostei mais foram as de garçom e verdureiro. É que nesses trabalhos eu tinha bastante contato com o público. (Nesse instante, uma abelha se enrosca nos cabelos de Inri. Avisado pelas suas discípulas, ele não manifesta nenhuma reação de susto, nem tenta aniquilar o inseto. Quando percebe que a abelha consegue escapar de suas tranças, a abençoa: “vai embora, em paz”). Conheço o Brasil todo. Em cada lugar aconteciam coisas na minha vida. Vou falar uma das mensagens que eu recebia daquela voz. Eu levantava cedo, aos domingos, pra ir na missa. Wilhelm Thais, católico bem fervoroso, me levava sempre. Eu estava ajoelhado na fila para tomar a hóstia. Foi na Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, lá em Blumenau. Eu ajoelhado e o padreco lá com a hóstia. De repente eu olhei… Loucura: se eu não fosse quem sou. Olhei e vi o padreco com a hóstia. Por um furtivo momento, vi que a hóstia era eu. Imediatamente recebi a ordem de não falar aquilo pra ninguém. Se eu falasse, me internavam.
ZONA SUL – Até então o senhor nem sabia quem era.
INRI – Isso. E se eu falasse, o padreco seria o primeiro que iria mandar me internar. Já que vocês me abordaram, contarei outra experiência terrível dessas…. Em União da Vitória, no Paraná – eu já tinha 18, 19 anos – me roubaram a roupa. Parecia que era uma coisa: tinha sempre alguém para roubar minha roupa. Parece um absurdo. Eu estava hospedado no Hotel Flórida. Pedi para a dona do hotel a roupa que eu tinha mandado para a lavanderia. Ela foi e o tintureiro disse que não estava lá, que alguém já tinha apanhado. A polícia registrou um boletim de ocorrência… Óbvio que no documento foi registrado meu nome e a minha condição de vítima. Resolvi ir de trem para Rio Negro. Fui com o meu lugar-tenente: eu tinha um auxiliar que andava comigo. Esqueci de contar que vendi roupa de porta em porta quando criança. Uma tia costurava. Contratei um jovem mais velho e mais forte do que eu para carregar a mala com as roupas. Tirava 10% do que arrecadava vendendo as roupas para pagar a ele. Desde criança sempre tive facilidade de comunicar-me com as pessoas. Mas eu dizia que tinha ido para Rio Negro com o meu lugar-tenente, o Ventura Martins. Quando estávamos saindo da sessão, chegou aquela presença macabra, um policial fardado, dando logo uma carteirada. “Você está preso”. Me levou para a prisão. Era o tempo dos militares…
ZONA SUL – As prisões nem precisavam ser explicadas…
INRI – Fui para uma cela com o Martins. Ficamos detidos durante uma semana. Comíamos naquelas latas de óleo de milho, partidas ao meio. Era farinha de milho com água. Eu usava os pés do Martins como travesseiro e ele usava os meus. Pedroso, o policial que me prendeu, de vez em quando aparecia lá para dar umas risadas. Uma semana depois Pedroso foi na Rádio São José, de Rio Negro, e disse que ia recambiar para União da Vitória dois bandidos muito perigosos que ele tinha capturado. Durante a semana que passei ali constatei porque ele tinha tanto poder. Ouvi os murmúrios nos corredores da prisão que ele espoliava os presos. Também escutei que ele chefiava um sistema nos cabarés para conseguir dinheiro.
ZONA SUL – E a experiência mística?
INRI – O policial encarregado de me custodiar até União da Vitória – eu não conhecia ele pelo nome, mas pelo apelido de Tucum – era um homem fortão e escuro. Pedroso me levou algemado no Martins… Deus há de inspirar para você não mentir, há de lhe dar luz para não publicar nenhuma inverdade. Quando cheguei na estação de trem, em Rio Negro, tinha uma enormidade de pessoas simples. O mesmo tipo de gente a quem eu vendia rifa lá em Campo Largo. Estavam me olhando. Eu, algemado no Martins, mas com meu espírito elevado. Vi o povo ali, todos me olhando como se eu fosse um bandido. Tive que passar por essa experiência amarga para ter essa visão. Por um furtivo momento eu olhei para eles e vi lá em Jerusalém o povo gritando: “crucifique, crucifique”. Foi tudo muito rápido. Nem para o Martins eu falei o que vi. Fiquei com o espírito mais elevado pensando: “pelo menos alguém está vendo que eu não tenho culpa, que sou inocente”. Dentro do trem, Tucum, a cada meia hora, olhava pra mim e dizia: “eu não tenho nada a ver com isso, eu não tenho nada a ver com isso, apenas estou cumprindo ordens”. Parecia que ele via alguma coisa que fazia pesar a sua consciência.
ZONA SUL – Quando se desfez o engano e você, a vítima do assalto, foi solto pela polícia?
INRI – De madrugada, quando cheguei em União da Vitória, um cidadão chamado João Farmácia – que era um policial barbudo, com a barba por fazer – me recepcionou lá. Tucum nos entregou para ele. Fomos para uma cela em Rio Negro. Quando o dia amanheceu, escutei o barulho de grades abrindo e de vozes. Numa prisão, pra quem já esteve preso, é quase sempre a mesma coisa. Fui preso mais de 40 vezes. Só em Paris fui preso três vezes em um dia. Na prisão política de Asunción, fiquei sete dias. Curti o “hotel” do Stroessner muito bem curtido. Lá fiz uma pós-graduação em sociologia. Mas vou completar essa parte. O dia amanheceu, escutei as grades abrindo e uma voz de mulher. Quando ela chegou na frente da minha cela, que me viu, gritou: “ele não, ele é a vítima!!!”. Era a dona da lavanderia. (risos). O delegado me deu tapinhas nas costas e disse que tinha havido um equívoco, tinham mandado meus dados por engano, sei lá.
ZONA SUL – E essa prisão na ditadura de Stroessner?
INRI – Em Asunción tive experiências magníficas. Aprendi coisas que não dá para aprender em livros, é impossível. Em Asunción fui do aeroporto direto para a prisão. Eu vinha de Santa Cruz de la Sierra. Eu tinha que passar pela prisão de Assunción para encontrar um cidadão chamado Gustavo. Naquele tempo eu era ateu e profeta de um deus desconhecido. Comecei minha vida pública na Rádio Princesa, de Francisco Beltrão, no Paraná, em março de 1969. A prisão de Asunción foi a mais horrível que conheci na minha vida toda. Gustavo era um cidadão argentino que tinha sido reitor de uma faculdade de Economia, em seu país. Eu era tão ateu ao ponto de debochar de qualquer pessoa que falasse desse deusinho que tem por aí. Gustavo me disse uma coisa muito interessante. Como eu era ateu, aquilo entrou na minha cabeça e ficou. Ele contou o motivo para estar preso. Tinha dado um golpe na universidade da qual era reitor. Foi para o Paraguai como refugiado, com todo o dinheiro que roubou. Lá cometeu um segundo delito, comprou uma identidade falsa. Quem vendeu a identidade o denunciou. O coronel que dirigia o presídio fez ele telefonar para a mulher, em Buenos Aires, dizendo que estava tudo bem, e ficou com o dinheiro.
ZONA SUL – O diretor do presídio ficou com o dinheiro?
INRI – Sim. Gustavo contou que era ateu até chegar na prisão. “Eu precisava vir aqui nessa prisão. Eu era reitor da faculdade, aqui eu varro o chão. Eu fiquei rico aqui. Eu tinha que vir aqui para ficar rico. Eu roubei muito dinheiro, mas aqui eu descobri Deus. Aqui só sobrou Deus pra mim”. Foi muito forte ouvir aquilo. Pedi ao Gustavo que ele se explicasse melhor. Ele contou que estava lá há quatro anos, que tinham roubado o dinheiro dele, que não deixavam nem ele falar com a mãe, com a mulher ou algum parente. Só sobrou Deus pra ele. Ele foi mais um mensageiro que cruzou o meu caminho. Eu tinha que tornar-me ateu para escapar dos malditos dogmas que são um cadeado para o raciocínio, para poder estar limpo, sem nenhum resquício, sem pegar nada das religiões. Quando cheguei ao jejum em Santiago do Chile, eu era ateu, graças a Deus. Lá tive a revelação.
ZONA SUL – Quando o senhor descobriu que era Cristo?
INRI – Quando saí do Brasil, após receber ordem para deixar o país, percorri vários países até chegar em Mendonza, na Argentina. Em Buenos Aires falei em um salão de beleza para muitas mulheres, porque a mídia me boicotou. Elas tiravam a cabeça de dentro daqueles secadores para me ouvir. Houve um boicote. Alguém deve ter ouvido alguma coisa que eu falei que não foi do agrado. Nem todo mundo gosta da verdade. Quase ninguém gosta, nos tempos atuais. De La Paz, providenciei minha ida para Santiago. Eu já sabia que quando fosse em Santiago ia acontecer alguma coisa, mas não sabia o que era. Impressionante isso. Eu e meu secretário da época, Antonio Marques de Oliveira, embarcamos com destino a Santiago. Paramos em Los Andes para tomar um café. Muitas vezes o Senhor regulou meus passos através da moeda. Eu tinha programado ir direto para Santiago. Sempre que eu chegava em um local, procurava falar em uma rádio, para o povo saber da minha presença. Eu via o futuro das pessoas. As pessoas vinham com seus problemas… Foi assim que eu vivi desde que comecei a minha vida pública. Antes de eu revelar que sou INRI CRISTO, a mídia toda me anunciava, não tinha boicote. Agora é uma outra realidade: Cristo? Louco? A loucura e a sabedoria são irmãs gêmeas. Uma caminha tão paralelamente à outra que não dá para distinguir.
ZONA SUL – O senhor poderia explicar melhor?
INRI – Por exemplo: os inventores do avião, os inventores até da luz elétrica foram considerados loucos. Louco é aquela pessoa que tem uma ideia que ainda ninguém conhece. Enquanto a ideia não é colocada em prática, ele é louco. Mas voltando ao que eu dizia. Quando cheguei em Los Andes, recebi a ordem de ficar por lá. Naquele momento, ficar em Los Andes sem dinheiro foi a pior coisa que aconteceu comigo. Mas cumpri a ordem e fui direto para o Hotel Plaza. Como a situação pecuniária me obrigava a começar logo a me mexer, procurei o único jornal periódico da cidade. Parece coisa programada. Cheguei e disse ao diretor do jornal que precisava me comunicar com as pessoas da cidade. Desde 20 de março de 1969 eu dependo sempre do povo. Nessa data comecei minha vida pública. O diretor olhou pra mim como se já estivesse me esperando. Ele perguntou se eu não gostaria de fazer uma viagem para representar o seu jornal. Parece coisa de louco. Perguntei o que era. Ele disse que ia haver a inauguração de um hotel de luxo na Cordilheira. Pediu para eu representar o jornal no evento. Eu tinha dito a ele que tinha urgência de me comunicar. Ele disse que lá eu apareceria para todos os chilenos. Aceitei. Um ônibus alemão, muito confortável, foi me apanhar no hotel, com os jornalistas e cinegrafistas de Santiago. Entendi porque ele não quis ir. Ele era o dono de um jornal interiorano e ia se sentir denegrido no meio dos orgulhosos da capital. Então ele quis humilhar os outros colocando um estrangeiro em seu lugar. No ônibus, os jornalistas diziam assim: “como é possível um estrangeiro representando um periódico chileno?”. Isso faz 30 anos. Quando chegamos lá, tinha uma espécie de comitê de recepção. A mídia tinha sido contratada para divulgar o lançamento do hotel. Mas como o dono do jornal de Los Andes disse que eu podia representá-lo do jeito que me aprouvesse, subi em uma mesa na frente de todos aqueles engravatados e dei um sermão. Eu, que recém tinha começado a falar espanhol, falei sobre o fim do mundo. Quando terminei, o dono do hotel perguntou se poderíamos começar os trabalhos da inauguração. (risos).
ZONA SUL – Os chilenos não devem ter entendido nada!
INRI – O fato é que, depois, quando cheguei em Santiago a minha imagem já estava lá. O periódico “La Tercera” colocou na primeira página. Não cheguei mais como desconhecido. Se eu for contar com mais detalhes a minha história, vou até o mês que vem. Se um dia vocês voltarem à minha presença, poderemos continuar a conversar. Minhas portas estão abertas para todos os seres humanos sinceros e honestos. Se eu for falar, meus filhos, vou longe.
ZONA SUL – Como foi o retorno para Los Andes?
INRI – Passei um momento muito difícil em Los Andes porque lá só tem duas classes sociais. Ou seja, não tem espaço para um profeta. Traduzindo por miúdo, tive que logo ir para Santiago. Em Los Andes ouvi falar muito em Patrício Varela. Disseram que eu tinha que ir para Santiago falar com ele. Quando cheguei em Santiago, já sabia com quem eu tinha que falar. Mas Pinochet – que os infernos lhe sejam leves – não me deixou falar na televisão chilena. Falei só na Radio Portales, que é a maior emissora do Chile. O principal representante da emissora, na época, era o Patrício Varela. Quando o procurei, parecia que ele também estava me esperando. Fiquei mais de uma hora no ar, e todo o Chile pode me escutar. Depois de passar dois meses no Hotel Imperador recebendo pessoas em audiência, cumpriu-se o que a voz – que hoje eu sei que é do Senhor – já vinha me dizendo desde Los Andes. A voz dizia que as mulheres iam me mostrar algo. Foi quando apareceu uma mulher dizendo que representava um grupo esotérico em Santiago. Ela era a mais nova da turma, que estava na faixa dos 70 anos. Ela disse que seu grupo estava acompanhando pela Rádio Portales desde que eu tinha chegado no Chile. Falou também que dois meses antes de eu chegar lá, a líder delas tinha dito que eu iria para o Chile. A história é comprida, vou resumir. Fui me encontrar com esse grupo de 12 pessoas. Eles se reuniam em uma casa bem rústica que tinham construído. Eram pessoas de diferentes bairros, mas todos eles com uma visão metafísica. A pessoa que me procurou se chamava Berta Segura Sanchez. Ela me deu a chave dessa casa que o grupo tinha construído. Tinham marcado para eu jantar com eles. Como achei aquilo tudo muito estranho, devolvi a chave para ela. Disse que se um dia eu precisasse, pediria. Eu não sabia ainda que eu iria jejuar naquela casa. Botaram uma mesa para 12 pessoas e disseram que o meu lugar era na cabeceira. Como eu era ateu, achei tudo uma bobagem. Sinceramente falando, olhei para eles todos como se fossem pessoas lunáticas, mas bem educadas. Patrício Varela, que me levou lá em sua limousine, ficou na antessala. Depois voltei para o Hotel Imperador. Quando terminei a minha temporada lá, a mão do Senhor fez com que eu saísse do hotel e fosse para a casa de Berta Sanchez.
ZONA SUL – No seu site tem a informação de que Berta Sanchez foi quem fez a sua primeira túnica.
INRI – Sim, foi ela. A casa de Berta Sanchez ficava no bairro de Maipu, em Santiago. O Senhor já tinha me dito que um dia eu precisaria da chave da casa construída pelo grupo do qual a minha anfitriã fazia parte. Foi quando eu soube que teria que jejuar lá. Aí é que aconteceu tudo. Entrei naquela casa como ateu. A história é muito comprida, mas, resumindo, Berta Sanchez confeccionou minha primeira túnica. Para jejuar eu teria que estar com aquela túnica. Na casa só estávamos eu e o Carrasquito. Carrasquito é o nome da pessoa que veio dormir lá comigo. Ele era um bancário. Carrasquito insistiu para ir dormir lá. Ainda bem que ele foi. Eu estava jejuando, olhando para as paredes e pensando: “o que eu vim fazer aqui?”. Não via nada, não acontecia nada. Nos filmes, às vezes aparece um espírito. Eu não via nada. Mas percebia que alguém saía do meu corpo. Como eu não estava comendo nada, nem bebendo, fiquei frágil. À noite, recebi a ordem imperativa: “levanta-te”. A ordem foi dada por aquela mesma voz que eu sempre escutei. Levantei de supetão. Como, devido ao processo de inanição, o sangue não subiu para a cabeça, como deveria, eu caí. Quando caí, minhas mãos não me ampararam. Caí de nariz no chão, inclusive quebrei o nariz. Na hora da dor, do sangue, escutei aquela voz: “as dores são necessárias, o sangue é necessário para que quando te negarem, tu lembrarás que é o mesmo que derramaste na cruz. Tu és meu filho primogênito, tu és o mesmo que crucificaram. Eu sou o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Eu sou teu Senhor e Deus. Não penses que essa revelação será muito favorável. Serás prisioneiro, expulso. Pagarás para comer e não te deixarão comer. Mas esta é a tua condição”, disse o Senhor.
ZONA SUL – Então a partir daí você assumiu a identidade de INRI CRISTO.
INRI – Ainda não. Nessa mesma noite Ele disse que eu não podia falar pra ninguém. Eu só poderia revelar depois que um jornal – por acaso, como que por engano – escrevesse meu nome como INRI. Percorri a América Central inteira, estive, inclusive, em Tegucigalpa. Quando estava no México, depois que falei ao povo no Quiosque da Alameda, o jornal Ovaciones escreveu: “INRI, el Cristo, Hijo de DIOS, habla al pueblo y cura a los enfermos em el Quiosque de la Alameda”. Foi quando Ele me mandou trocar de hotel e me registrar como Inri, ao invés de Iuri. A partir daí comecei a perceber o ódio dos donos das igrejas, o ódio dos que se dizem servos de Cristo. Até então, para eles eu era apenas um profeta. Quando assumi o nome de Inri, tudo mudou. Fiquei quatro meses no México. Em Guadalajara fui convidado para entrar em um templo. Um garçom insistiu porque queria que eu fosse na igreja evangélica dele. Eu dizia a ele que não ia, que só falava em praça pública. Mas ele veio tantas vezes falar comigo, que um dia eu disse: “olha, meu filho – ele era o garçom que me servia – fale para o chefe da sua igreja, para o líder, para o pastor, que se ele vier aqui pessoalmente me buscar, eu aceito o convite”. Eu achava que ele não viria. Não veio mesmo, mas mandou outro pastor para dizer que eu fosse, que estavam todos me esperando, que eu falaria para 5 mil pessoas. Quando cheguei lá, por um instante pensei que aquilo era a casa de Deus. Entrei e vi que só tinha um púlpito e tinha espécie de placa com a palavra Jeová. Jeová quer dizer Senhor.
ZONA SUL – Como o senhor foi recebido pelos fiéis dessa igreja?
INRI – Bem, me virei para o microfone, que tinha um som perfeito, e comecei a falar. Na metade do sermão o povo começou a murmurar: “Jesus, Jesus”. Alguns começaram a chorar.
Nesse instante, o som começou a baixar até que não ficou som nenhum mais. Então veio um leão de chácara enorme, calçado com botas. Não esqueço o barulho daquelas botas. Dirigindo-se a mim, disse que estava na hora de eu sair. Pegaram-me no braço e me levaram para fora. Na saída ainda pude ver o povo dizendo “Jesus” e “Cristo”. Saí e entendi que ali não era a casa do meu PAI. Depois tive outra experiência parecida e nunca mais aceitei convite para nenhuma igreja.
ZONA SUL – Como foi essa outra experiência?
INRI – Foi em Ajaccio, na Ilha da Córsega, na França. Eu estava hospedado em um hotel na frente de um colégio. As crianças me viam e falavam em casa: “Cristo, Cristo, Cristo…”. Recebi o convite para falar na Igreja Evangélica Livre. Fiz essa última tentativa. A filha do pastor, o namorado e os amigos deles vieram falar comigo. Ela disse que a igreja era pequena, mas que todos tinham muito amor por mim. A filha do pastor percebeu quem eu era. Respondi que só iria se o pai dela viesse me buscar. Ele veio. Porém, logo que entrei no carro, quando vi o jeito que o colega dele pegou a bíblia, percebi que eles não iam se entender comigo. Ele pegou a bíblia fanaticamente. Cheguei na igreja e entrei. Estavam todos sentados, esperando. Botei meu manto em cima da poltrona e comecei a falar. Eu não falo francês muito bem. Falei na França para não morrer de fome, quando fui expulso da Inglaterra. Quinze dias depois que cheguei na França fui obrigado a falar na praça pública. Do contrário eu ia morrer de fome. Essa é a minha realidade, eu não posso pedir nada a ninguém. Mas eu dizia que quando comecei a falar, o pastor começou a ver no rosto das pessoas que elas estavam mudando. O pastor pegou o meu manto, me entregou e disse que estava na hora de eu partir. Como já conhecia esse argumento, levantei, virei as costas e saí. A filha dele e os jovens vieram atrás de mim e me levaram no hotel. A filha disse que estava muito triste pelo seu pai. Nunca mais vou entrar em nenhuma igreja.
ZONA SUL – O senhor já andou pelo Rio Grande do Norte?
INRI – Estive duas vezes em Natal. A primeira foi em 1981, quando estava percorrendo o Brasil todo. Em cada cidade que chegava, procurava uma praça para falar. Se as pessoas me davam ressonância, se alguém acercava-se, eu deixava a minha palavra. Se não, a minha missão estava cumprida. Para ser sincero, na primeira vez em Natal foi assim. A segunda vez eu estava de passagem. Cheguei a falar em algum jornal. Acho que no Diário de Natal. O que lembro da vossa terra, que é muito linda, é que minhas discípulas queriam desfrutar daquelas belezas, mas não puderam. Passamos em um lugar onde havia uma água muito linda. Elas queriam tomar banho, mas eu estava só de passagem. Um dia elas voltarão. Antes de deixar uma oração final, quero dizer que serão muito bem vindos se um dia voltarem aqui. Vou pedir ao PAI a benção. “Oh, PAI! Eterno e inefável, Deus infalível Criador do Universo. Das culminâncias do Teu reino, do trono do Teu poder, do alto do qual Teus olhos temíveis tudo descobrem, tudo veem, abençoe Teus filhos com saúde, luz e justiça. Porque Tua é toda a glória para todo o sempre, oh, PAI! Que a paz esteja com todos”.